Rara cadeira indo-portuguesa, muito provavelmente de Goa, que faz parte de um reduzido número de exemplares que chegaram até aos nossos dias. As cadeiras eram desconhecidas para uso comum na Índia antes da chegada dos Portugueses¹. Foram executadas para utilização local e não para exportação. Conhecem-se mais algumas, como as da colecção do Museu da Cidade de Lisboa, Museu do Seminário de Rachol, colecção Rosália de Abreu, em Panjim, Igreja do Bom Jesus, em Velha Goa, e outras três em colecções privadas de Lisboa.
Formalmente, estas cadeiras aproximam-se dos modelos da Península Ibérica coevos, pela sua simplicidade e despojamento formal, seguindo os modelos de madeira e estofo, ou de metal e couro.
A reduzida espessura dos travejamentos, contrariamente aos modelos europeus, só é possível pela resistência do seu material, a madeira de teca. A palhinha, por óbvias razões climáticas, era aplicada nos assentos e costas².
A decoração de raiz vegetalista é entalhada na madeira, seguindo um formulário decorativo comum na cultura hindu, reconhecível por exemplo nos tecidos da época. Por vezes introduziram-se motivos decorativos cristãos, como são os casos da aplicação de anjos e insígnias de ordens religiosas, na cadeira da Igreja do Bom Jesus de Velha Goa, com a presença de uma cartela na decoração do topo, onde se inscreve o símbolo IHS³.

¹ Pedro Dias, O Contador das Cenas Familiares, ed. VOC, Porto, 2002, pp. 66-68.
² De Goa a Lisboa, Maria Helena Mendes Pinto, ed. I.P.M, 1992, cat. 53, p. 112.
³ Oceanos, n.º 19 e 20 - Indo-Portuguesmente, Set/Dez 1994, ed. Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, Sentando-se em Goa, Maria Helena Mendes Pinto, p. 43-58.